“Ownership”
O que motiva as crianças a tocarem um instrumento musical
Fazer com que as crianças queira por elas próprias estudar e dominar uma peça, faz parte de um quadro muito maior do que simplesmente querer que eles dominem uma música, e quando elas alcançam este estágio, é o que podemos chamar “tocar com propriedade”.
Este é um tópico extremamente complicado, mas este texto tratará especificamente disto.
Mas antes de responder a esta questão, devemos entender exatamente onde isto entra dentro da metodologia Suzuki.
Analisando esta questão sob a ótica do triângulo Suzuki, vemos de um lado o professor, que terá um papel importantíssimo ao ajudar a criança a encontrar sua própria personalidade no instrumento, quando isto acontece, o instrumento acaba se tornando uma extensão do próprio aluno, e ele poderá expressar sentimentos que talvez não hajam palavras para faze-lo.
E é claro que uma criança de 4 ou 5 anos jamais conseguirá alcançar tal façanha se não tivermos o comprometimento dos pais.
Existe 3 estágios para o desenvolvimento da personalidade musical do aluno;
-
No primeiro estagio todas as decisões não são tomadas pela criança, e sim pelos pais e pelo professor.
-
No segundo estagio começamos a convidar a criança para que ela participe das decisões, e comece a tomar responsabilidade por algum aspecto musical, ou seja, ela será responsável por manter uma boa postura por si própria, ou manter o som bonito, ou tocar um trecho com o dedilhado correto.
-
E no último estagio nos passamos a criança a total responsabilidade por todas as decisões.
Os pais já fazem escolhas pelas crianças o tempo todo, escolhem a escola onde vão estudar, a roupa que vestirão, levam a criança para tomar vacina e até quando escovar os dentes. A musica é mais uma escolha que os pais fazem para as crianças.
Assim que começamos as aulas, se inicia uma relação muito especial entre o professor, a criança e seus pais, ao qual chamamos de Triângulo Suzuki.
Dependendo do ponto em que estiver, você pode até mesmo chamar isto da pedra fundamental ao qual o método Suzuki se baseia, mas outros podem se dar conta de que este triângulo Suzuki sente a necessidade de mudança de acordo com o tempo, e em seu último estágio, ele se dissolve, quando a criança se desenvolve e não mais precisar dele.
A última meta é fazer com que a criança desenvolva a capacidade de aprender a vencer todos os desafios. Um bom exemplo disso seria a criança ouvir uma musica no radio, e ser capaz de organiza-la, dividi-la nas partes necessárias para domina-la sem a ajuda do professor ou dos pais.
Uma outra coisa que muda no triângulo Suzuki, é a maneira com a qual nós motivamos nossas crianças a participarem da metodologia Suzuki. Para isto, vamos entender um pouco mais sobre motivação, e os tipos de motivação que existem.
A primeira seria a motivação intrínseca;
Motivação intrínseca é a automotivação ou desejo para realizar algo, ou ter algum habito ou praticar alguma atividade pela simples razão de querer realiza-la, assim como um hobbie, ler, pintar, cantar ou tocar um instrumento. Isso significa que a atividade é feita por nenhuma outra razão além do prazer de pratica-la por si só.
Não é preciso dizer que a maioria das crianças não possuem esta motivação.
A outra maneira de motivação é a motivação Extrínseca;
Motivação extrínseca são todas as outras razões pelas quais nos leva realizam algo, elas estão ligadas por razão que não são o prazer de fato em fazer aquilo.
Ela acontece quando nos aceitamos fazer algo para ganharmos uma recompensa, ou para evitar uma punição, bons exemplos de motivação extrínseca são; estudar por que você não quer repetir de ano, limpar seu quarto para não ser repreendido por seus pais, participar de um esporte para ganhar algum titulo, ou participar de uma competição musical para ganhar um prêmio.
Em todos estes exemplos a motivação foi ganhar uma recompensa ou evitar uma punição.
Durante o primeiro estagio do aprendizado Suzuki, nós usamos muito a motivação extrínseca, um exemplo seria, um truque ou um doce por uma boa seção de estudo, ou um jantar especial após uma apresentação, um adesivo ou uma estratégia de estudos com jogos que as crianças gostem de fazer para engaja-las na atividade, um desenho para eles pintarem depois que fizerem as atividades, um simples “toca aqui!!” por um trabalho bem realizado, ou um elogio sincero do professor depois de uma boa execução.
Motivações extrínsecas são benéficas por vários motivos, primeiro porque recompensas externas podem induzir a crianças a ter interesse em algo ao qual ela não havia motivação inicialmente, motivação extrínsecas induzem as crianças a aprenderem novas habilidades e conhecimentos, uma vez que estas habilidades e técnicas foram aprendidas, as crianças podem se tornar mais motivadas intrinsecamente para as próximas ativadas.
Recompensas externas também podem servir de termômetro para as crianças, para elas saberem quando elas de fato conseguiram alcançar um nível alto em alguma performance ao qual ela esteja praticando.
Contudo motivações extrínsecas devem ser evitadas quando a criança já possui uma motivação intrínseca para alguma atividade, e neste caso, oferecer uma recompensa pode ate fazer com que a atividade pareça mais com um trabalho.
De fato, a maioria das pessoas podem sugerir que a motivação intrínseca é a melhor, contudo ela não pode ser usada em todos os casos e situações, em algumas vezes as pessoas simplesmente não tem desejo de se engajarem em alguma atividade, e claro que excesso de motivação externa pode atrapalhar, mas sendo usado de maneira dosada, motivação extrínseca pode ser sim muito útil.
Tradução: Rodrigo Elias de Andrade