De volta ao básico, tudo que o professor quer que você saiba

Bem-vindos a edição de 2013 da PPO (Pais Parceiros Online). Meu nome é Lucy Shaw e eu tenho um estúdio Suzuki perto de Seattle, no estado de Washington. O título do meu discurso de hoje é: De Volta ao Básico, Tudo que o Professor Quer que Você Saiba.

Eu recentemente abri um estúdio novo após minha mudança. Muitas das famílias que eu estou dando aulas vem de programas e professores diferentes, cada uma com um histórico e educação familiar diferentes. Eu tenho notado que para os meus alunos alcançarem seu potencial, é extremamente importante que todos nós estejamos de acordo em muitos pontos. Então eu pensei comigo mesma, “O que eu realmente quero que os pais saibam?”. Existem muitos temas a se pensar.

Como é de costume, nossa maior preocupação é relacionada ao sucesso na hora do estudo. Então hoje eu gostaria de revisar um pouco do básico: o que você precisa saber sobre o tempo de estudo individual à medida que você vai progredindo. Aqui estão algumas ideias que podem te ajudar. Eu gostaria de cobrir seis áreas diferentes hoje:

Ouvir
Assimilar o material da aula para que o estudo em casa seja adequado
Metas de estudo
Planejamento
Alguns pontos além da prática
Revisão
Vamos começar com a audição. Esse ponto tem que ser enfatizado sempre.
Precisamos fazer uma lista dos benefícios associados à escuta de música. Você pode fazer essa lista sozinho ou com sua criança. Vamos pensar em alguns dos benefícios. Quando ouvimos música, nós escutamos o estilo da peça. Nós ouvimos a afinação e a qualidade do som, a articulação e as arcadas. Nós ouvimos as opções que estão à nossa disposição. Nós nos inspiramos. Nós podemos ouvir o fraseado e o tempo. Escutar nos ajuda a memorizar. Nós podemos ouvir seguindo a partitura e refletir sobre interpretação. Podemos ouvir as dinâmicas. Podemos ouvir o acompanhamento.
Toque o CD em casa muitas vezes no dia. Se você tem uma peça específica que você está aprendendo, ouça somente essa peça ao menos dez vezes seguidas. Ouça o CD com seu filho. Hoje em dia, com tantos iPods e fones de ouvido, nós vemos as crianças ouvindo as músicas e não os pais. Portanto é muito importante que vocês pais também conheçam o repertório para que vocês possam ajudar na hora do estudo.
Saibam a diferença entre audição ativa e passiva. Para adolescentes, a audição ativa é obrigatória e deve ter um horário estabelecido dentro do estudo diário. A audição ativa envolve o estudo da partitura enquanto se escuta a peça. Com crianças mais jovens, é importante se mover com a música, dançando e cantando as peças. A audição passiva ajuda a internalizar a pulsação e o ritmo. É importante descrever a música, descrever o estado de espírito ou imaginar uma estória que combine com essa peça. Você pode fazer desenhos para descrever a música ou criar um roteiro.
Seja capaz de cantar todas as peças e cante-as com seu filho.
Ouça muita música erudita e todos os tipos de música em casa. Conversem sobre o que vocês escutam.
Assimilando o material da aula corretamente.
A primeira coisa que você precisa ter é uma filmadora pequena ou um smartphone que você saiba operar. Gravar a aula é a melhor maneira de levar o material da aula para casa. É muito difícil lembrar de tudo que aconteceu em cada aula. Você pode gravar a aula inteira ou as partes mais importantes. Se houver dúvidas sobre o que o professor realmente queria na aula, você pode assistir o vídeo e resolver o problema.
Você precisa ter um caderno e tirar um tempo para anotar o que o professor pede. Você pode anotar alguns pontos durante a aula e depois checar com a gravação fazendo algumas correções ou complementos.
Você entende as expectativas físicas do seu professor? Se você tem dúvidas quanto a isso, você pode perguntar se você pode tentar ajudar seu filho durante a aula. Muitas vezes, as crianças não se importam quando o professor manipula suas mãos ou o corpo durante a aula para assegurar que a postura esteja adequada. Porém elas não ficam tão felizes quando os pais tentam fazer o mesmo. Se os pais têm a chance de auxiliar durante a aula, é muito mais provável que a criança vá aceitar a orientação corporal em casa.
Outra coisa importante é fazer perguntas no final da aula. Você sabe o que sua criança tem que fazer em casa? Sente próximo ao seu filho durante a aula e seja um membro ativo do triângulo Suzuki.
Se sua criança está no livro 4 ou acima, tenha seu próprio livro e marque números de compasso. Assim, suas anotações serão mais eficientes e relacionadas a cada compasso que tem que ser praticado em casa.
Se o professor trabalha com um diário de tarefas ou uma tabela de estudo, certifique-se de que você e seu filho consultem o diário ou tabela durante o estudo em casa, ou seu filho pode consultar sozinho no caso de sua criança ser mais independente e estudar sozinha.
Uma pergunta muito boa que você pode fazer ao final de cada aula é “se tem uma coisa que você quer que eu me lembre dessa aula, o que seria?”
Metas de estudo
Os objetivos da prática individual são muitos. Eu acredito que essencialmente o que queremos é aprender a tocar uma música maravilhosamente, queremos adquirir técnica, e queremos transferir essas técnicas para as nossas peças. Queremos aprender como nossos instrumentos funcionam. Quais são as propriedades que fazem que quando juntemos o instrumento e o arco consigamos produzir um som bonito e boa música. Nós queremos gradativamente ganhar controle muscular e de nossa energia. Metas podem ser definidas por um ano inteiro. Quando você confere as anotações ou a gravação da aula, você pode pensar: quais são meus objetivos para esse semestre? Qual é a minha meta para o mês que vem ou qual é meu objetivo para a próxima semana? Ou você pode pensar qual é a minha meta para a próxima hora ou os próximos cinco minutos?
Em casa, organize suas anotações e outros materiais antes de começar a estudar, evitando assim de perder tempo buscando por informação. Se um dia você não tem tempo suficiente para estudar, aproveite para revisar e escutar suas peças.
Aprenda a estudar partes menores ao invés da peça inteira. Quando as crianças começam a amadurecer, pergunte-as “qual é o objetivo dessa sessão de estudo?” E então, depois do estudo, pergunte se o objetivo foi atingido.
Aprendi muitas coisas com meus professores e meus pais sobre o estudo. Com minha mãe eu aprendi a manter a constância e a tomar decisões sobre o tempo disponível para o estudo. Eu aprendi com meus professores que necessitamos de apoio em tempos de dificuldade, que precisamos nos dedicar pela arte, precisamos perder o medo e sempre lembrar que tocar algo dez vezes seguidas perfeitamente é algo sumamente importante. Aprendi a estudar eficientemente, economizar e descobri quanto tempo eu levo para assimilar informações.
Planejamento. O planejamento de estudo tem que se adequar a toda a família. Você tem que encontrar um lugar apropriado para o estudo, onde você possa manter seu material. Você tem que evitar interrupções. Durante o estudo, você tem que planejar pequenos intervalos de descanso e não longos períodos de pausa. Quanto tempo você tem que estudar cada vez? Eu acredito que é importante saber quando parar de estudar. Frequentemente, queremos forçar até o fim. A criança pode estar exausta e chorar porque é sempre uma maratona passar por todos os pontos de estudo. Se você sabe quando parar, pare cinco minutos antes de quando você acha que deveria parar. Tente finalizar a sessão de estudo quando você está se sentindo satisfeito e feliz com o desempenho. Assim, é muito mais provável que sua criança queira voltar a estudar novamente amanhã. Quando você tem mais energia durante o dia? E quando a sua criança tem mais energia? Tente organizar o estudo no auge da energia. Se vocês estudam quando estão cansados, esse momento não será prazeroso. Para adolescentes, pode ser que você tenha que sugerir uma alternância entre estudo e tarefa da escola. É comum ouvir de adolescentes que eles têm muita tarefa e pouco tempo para estudar. Porém algumas vezes você pode organizar o tempo deles em sessões de 30 minutos de tarefas escolares e 20 minutos de estudo do instrumento, ou talvez 45 minutos de tarefas e 15 de prática. Alguns estudos mostram que esse planejamento para ambas as atividades proporciona melhor atenção, processamento de informação e melhor absorção dessa informação.
Vamos ponderar alguns pontos sobre o estudo. Aqui estão algumas questões importantes. Por quanto tempo devemos estudar? Já ouvimos que em torno de 10.000 horas. Porém, essas horas tem que ser de qualidade. Eu amo essa citação de Leopold Auer para seu aluno Nathan Millstein: “Se você estudar com os seus dedos, nem todo o tempo do mundo será suficiente, mas se você estudar com a cabeça, duas horas são o bastante”. O importante não é quanto tempo você estuda, mas como você o faz. A pratica sendo irracional é uma perda de tempo, te deixando menos confiante, além de ser tediosa e chata. Estudar é perigoso. Eu amo essa citação de Paul Cantor “A avaliação de um artista se dá de acordo com o número de notas que ele se importa, então você deve se importar com cada uma das notas”. Eu adoro o exemplo da French Folk Song que tem 50 arcadas. Cada uma dessas arcadas tem que ser maravilhosa. Se você toca 50 arcadas com o arco torto ou 50 arcadas com o som feio, imagine o que você está aprendendo.
Hora da Revisão. Por que revisar? A lista a seguir foi feita por Winifred Crock, uma de minhas colegas e professora maravilhosa. Todo músico revisa para:
Desenvolver facilidade técnica;
Preparar um conceito técnico ou musical numa nova peça;
Desenvolver um conceito técnico ou musical até que se sinta fácil;
Manter a fundação técnica;
Desenvolver a qualidade de som, musicalidade, expressão e aumentar o repertório.

Na verdade, temos a chance de praticar até alcançar o domínio total. Existem quatro fases até o domínio total:

A primeira fase é aprender e memorizar as notas, ritmos, dedilhados e arcadas. Muitas vezes os pais e as crianças pensam “Uau, terminamos”, mas tem muito mais além das notas. Esse é só o primeiro nível.
Na próxima fase, continuamos a aprimorar nossas notas, dedilhados, ritmos e arcadas, mas nós também focamos na afinação, dinâmicas, distribuição do arco ou qualquer outra técnica especial de determinada peça.
Na terceira fase, nós continuamos trabalhando os aspectos anteriores, mas adicionamos o estilo, o fraseado e a habilidade de tocar em conjunto.
Na quarta e última fase, nós estudamos todas as habilidades anteriores, mas em situação de performance muitas e muitas vezes.

Lembre sempre dos estágios do aprendizagem motora. O primeiro é cognitivo: nós temos que compreender o que e como fazer algo. O segundo estágio é associativo: as habilidades se tornam mais refinadas, mas ainda sob controle voluntário. E o terceiro e último estágio é o autônomo: esse estágio é o mais demorado e requere muitas repetições. Somente quando uma peça pode ser tocada intuitivamente é que temos a liberdade de tocar artisticamente. Repetição é o caminho para o domínio total. Os estágios iniciais de aprendizagem são cruciais. A maneira como você toca uma peça nova no início do aprendizado deve assemelhar-se à maneira que você a tocará quando esta estiver pronta. Por exemplo, se você está tocando algo lentamente, assegure-se de que a quantidade de arco que você está usando reflete a quantidade de arco que você usará quando tocar mais rápido, ou quem sabe o peso nas mudanças de cordas. Mesmo que você esteja estudando uma peça num tempo mais lento, suas mudanças de corda têm que ocorrer rapidamente, como serão quando você tocar no tempo.

Sucesso: a definição de sucesso é a realização de uma meta ou um objetivo com propósito. Espero que algumas dessas ideias básicas te ajudem a definir seus objetivos e propósitos e te inspirar a alcançar o melhor que há em ti durante o estudo.

Traduzido por Ana Abrantes